Pacientes que apresentam”pernas vermelhas”: Diagnóstico diferencial e o papel da compressão

Zena Moore, Gillian O'Brien, Leanne Atkin, Mark Collier, Rebecca Elwell, Helen Meagher, Melanie Thomas, Stewart Walsh
23 May 2024

Pacientes que apresentam vermelhidão nos membros inferiores são geralmente diagnosticados com celulite e, frequentemente, tratados com antibioticoterapia. A celulite é uma condição comum que se manifesta como inflamação aguda ou vermelhidão da pele e do tecido subcutâneo, resultante de uma infecção bacteriana, daí o termo “pernas vermelhas”. Embora a infecção possa provocar inflamação, é importante reconhecer que a infecção nem sempre é a causa da inflamação. Outras condições inflamatórias da pele podem resultar em “pernas vermelhas”, causando assim confusão ao realizar um diagnóstico diferencial.

Isto é evidenciado na literatura, com taxas de diagnóstico errado de celulite relatadas em cerca de 30% dos pacientes (Patel et al, 2020), resultando em internações hospitalares desnecessárias, prescrições inadequadas de antibióticos, diagnósticos incorretos e uso indevido de recursos limitados. Este é um problema clínico significativo em uma era de resistência antimicrobiana (RAM), na qual o diagnóstico apropriado pode evitar o uso inadequado de antibióticos, em conjunto com o gerenciamento de antimicrobianos (GAM), e auxiliar na administração de recursos de saúde limitados por meio da prevenção de internações. 

O objetivo deste documento é fornecer as informações necessárias para que os profissionais de saúde possam diferenciar entre condições infecciosas e inflamatórias dos membros inferiores, frequentemente manifestadas como “pernas vermelhas”, e determinar o protocolo de tratamento adequado. O fundamento baseia-se em uma avaliação holística completa. Portanto, descobertas incidentais, como cânceres de pele de membros inferiores, doenças de pele e problemas agudos, tais como suspeita de trombose venosa profunda (TVP), fasciíte necrosante e doença arterial periférica serão brevemente referenciadas com descritores clínicos (ver Apêndice 2). Isso embasará o uso da terminologia correta que é necessária para o encaminhamento adequado aos serviços especializados.

Finalmente, será abordado o papel da terapia de compressão no manejo das condições inflamatórias e infecciosas da pele, com ênfase na aplicação precoce desse tratamento para contornar os efeitos adversos da falta de compressão, quando apropriado. As evidências sugerem que existem oportunidades perdidas relativas à aplicação precoce da terapia de compressão (Guest et al, 2013). Prevê-se que alcançar um diagnóstico diferencial preciso dará aos profissionais de saúde a confiança para aplicar a terapia compressiva mais cedo, otimizando os resultados para os pacientes ao tratar os fatores causais.

Códigos QR serão usados em todo o documento para fornecer links para outros documentos que sejam relevantes ou que apoiem este documento de melhores práticas. 

Mais informações sobre o documento

Com base em trabalhos existentes, como as diretrizes da Sociedade Britânica de Linfologia (SBL) no Reino Unido (SBL, 2022), o “Projeto Pernas Vermelhas” evoluiu ao identificar problemas na prática clínica relacionados ao diagnóstico preciso da celulite dos membros inferiores e à capacidade de distingui-la de outras causas. Esta é uma questão bem reconhecida na prática clínica mundial, o que tem suscitado muito debate entre os profissionais de saúde quanto a quem está mais qualificado para manejar esta condição. O desafio na prática é multifatorial: por exemplo, os profissionais de saúde podem não ter tido exposição clínica a condições dermatológicas ou vasculares, o que pode resultar em uma compreensão inadequada dos fatores causais que contribuem para as condições e complicações da pele dos membros inferiores.

Independentemente deste debate, a vermelhidão nos membros inferiores resultante de infecções, TVP ou condições inflamatórias da pele é uma apresentação frequente em consultórios e serviços de emergência em todo o mundo. Um manejo deficiente ou incorreto pode resultar em apresentações repetidas significativas, uso excessivo ou incorreto de antibióticos, e experiência e resultados desfavoráveis para os pacientes (Patel et al, 2020). Há dados publicados referentes a fatores de risco, falta de critérios para diagnósticos e manejo; entretanto, há uma lacuna de informação sobre a experiência e as necessidades dos pacientes, ou de reconhecimento de que os profissionais de saúde podem ter dificuldade em diferenciar a celulite dos membros inferiores de outras causas (Patel et al, 2020).

Além disso, o sistema de saúde no Reino Unido reconheceu que a incapacidade de lidar adequadamente com condições dos membros inferiores pode levar ao desenvolvimento de feridas. De forma alarmante, o número de amputações por causas não traumáticas dos membros inferiores em pacientes não diabéticos está aumentando (Atkin et al, 2021). Diagnósticos como edema agudo ou crônico em associação com “pernas vermelhas” podem ser particularmente complexos, pois têm várias apresentações clínicas em diferentes estágios (Patel et al, 2020). Os pacientes também podem apresentar problemas simultâneos, como infecção e inflamação, cuja diferenciação pode ser um desafio. Sem exames diagnósticos precisos disponíveis, utiliza-se a avaliação clínica para se chegar a um diagnóstico diferencial.

Para tratar destas questões na Irlanda, foi criado um grupo de especialistas e desenvolvida a ferramenta RATED (“Rapid Assessment & Treatment in the Emergency Department”, ou “Avaliação e Tratamento Rápido no Departamento de Emergência”). A ferramenta inclui critérios descritivos e de imagem para a identificação de infecções (celulite), inflamações (eczema venoso, lipodermatosclerose) e outras condições comuns, como a TVP. O retorno dos profissionais de saúde por meio de questionário anônimo foi positivo (n=13), relatando que a ferramenta é de fácil uso e útil para o diagnóstico diferencial (O’Brien e White, 2021). Os dados têm mostrado uma taxa consistente de 63% de não necessidade de admissão desde a criação da ferramenta (O’Brien e White, 2020). O trabalho de aprimorar a validação da ferramenta e adaptá-la para uso internacional está em andamento. 

Disclaimer: This Best Practice Statement document has been supported by 3M.
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